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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Eternidade

Havia um tempo em que tu eras o todo em fragmentos
espalhados desordenadamente pelo sôpro do vento que
me habita. Nada era mais sublime e doce que a tua
imagem na parede espelhada para minh'alma e de onde
eu te olhava onde quer que eu estivesse.
E nos recantos da minha memória entre o ontem e o
agora, eu ainda te vejo, mesmo sabendo que já lá não
estás e que o sôpro que havia outrora dispersou-se
como nevoa de um outono sobre folhas secas caídas na
calçada.
Trago em mim, ainda, o gosto do vinho em tua boca e
o cheiro adocicado das baforadas do teu cigarro e
ainda vejo a fumaça em círculo desmanchando-se no ar,
mas sei que tu já não és e eu também não sou, porque
o que fomos perdeu-se de nós naquela tarde em que
partistes.
Há uma dor que ainda dói, um poema inacabado, um
cinzeiro na mesa de canto onde te sentavas a divagar
e de onde me olhavas à meio riso enquanto eu te
contava segredos.
Não sei se foi o tempo que passou ou se fomos nós que
passamos, enquanto o tempo permaneceu, como a pedra da
lápide fria onde agora jazes, em cujas bordas plantei
flôres e onde leio-te os meus poemas de fim de tarde
e, mesmo não vendo o teu olhar de ternura eu sinto que
tu me ouves, porque foram feitos pra ti...
Meus dias são feitos de espera e a mesma nevoa encobriu
os meus cabelos tingindo-os de branco como a cor da
tua ausência e do vazio dos anos. Sinto que breve nos
reencontraremos na eternidade, então,
até lá e um beijo de saudade...


Imagem da net