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quarta-feira, 2 de junho de 2010

Diálogos noturnos

- Dá um beijinho, meu bem...
- Ta bom Euclides, só um beijinho. Nada de assanhamento
que eu quero dormir.
- Nada, assim... nadinha de nada?... nem...
- Nada, Euclides! Nem!!!
- Andas ficando mazinha...
- Ando ficando é cansada, Euclides. Cansada!!!
- Sei. Depois vais reclamar se eu me engraçar pra outra!
- Que outra, Euclides; que outra? A assanhada da rua de
trás? Hahahahaha.... Acaso pensas que tens pipa pra
apagar aquele fogaréu? Há quanto tempo não fazes...
Bem, deixa pra lá...
- Zombas, tá! Zombas! Mas não precisas me humilhar
não! Só porque de vez em quando a coisa não funciona...
- De vez em quando? Esse teu “de vez em quando” é igual
a “SEMPRE”! Nesses últimos três anos, tu só me destes
canseira, Euclides. E ainda ficas te achando “o garanhão”
da rua. Pensas que não vejo? Sou cega não!
- Sou um homem novo, Marina. E bem apessoado, diga-se
de passagem. Me visto bem, tenho boa conversa.
- Certo... Homem novo, bonito, CASADO, tens um bom
emprego. Pois tás querendo dizer o que com isso?
- Eu? Nada, Marina. Falei só por falar, mulher. Sabes que
só tenho olhos pra ti, minha flor! Não saio por ai dando
em cima da mulherada. Elas é que ficam me “secando”...
- E “secaram” mesmo, Euclides ... Também, se desses em
cima delas, ias fazer o que? Cai na real, meu bem!
- Não esculhamba, ta! Nem é culpa minha se...
- É culpa de quem, Euclides? Acaso estás a pressupor
que a culpada agora sou eu? Me explica isso, vai!
- Não, meu amor! Tu é que és a minha flor de laranjeira,
sempre linda, cheirosa, sedutora.
- Então...
- Sei lá Marina. A culpa é de tanta coisa, sabes?
- Que coisas são essas, Euclides?
- Outras coisas, querida...
- Quero saber que coisas são essas que te deixam assim
meio...
- Meio?... Meio o que? Impotente? É isso que ias dizer,
Marina?
- Não com essas palavras, Euclides. Mas é mais ou menos
isso...
- São tantas coisas, meu amor.
- Que coisas???
- Sei lá... Esse governo, a inflação, o trânsito caótico, a
crise mundial. Imagines só como fica a cabeça de um
homem. E se a cabeça não vai bem, o resto não funciona!
- Pois é, né... Se a situação já chegou à esse ponto, eu vou
acabar processando o governo, desinflacionando a
moeda, jogando uma bomba no trânsito e ainda terei que
resolver o problema da crise mundial, já que tudo isso
está afetando o meu maridinho e botando em risco o nosso
casamento.
Mas se eu não dormir agora, Euclides, amanhã sou eu que
não vou funcionar nem pra levar as crianças pra escola!
- Boa noite meu bem!
(Verônica Almeida)

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