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quarta-feira, 30 de abril de 2008

Como falar de mim

Esta semana eu não estou "com saco", nem inspiração.
Nem alegre, nem triste e, quando fico assim eu me sinto
ôca e passo a maior parte do tempo com aquela cara
de João Bestalhão, olhando pro nada. Até tenho muitos
escritos prontos, mas foram feitos em função de algo
que já não faz sentido.

Vou aproveitar pra agradecer os muitos prémios que
me deram e a esta altura foram tantos que nem dá
pra
citar nomes. Ai que vexame...

E também vou fechar uns temas pendentes (desafios)
sobre falar de mim. Não vou enumerar, apenas vou
esboçar um rascunho feito assim meio à cinzas de
cigarros - que manejo melhor que um carvão ou um
pincel.

Meu maior defeito é ser transparente. O que não gosto,
falo ali, na lata e pronto! Ah! meu segundo maior
defeito
é pensar demais. Acho que penso mais do
que vivo...

Qualidades?
Muito poucas! Uma delas e da qual eu não abro mão
é a
minha teimosia. Durmo com ela até que a vida me
mostre
que estou errada. Mas a minha principal
qualidade é o meu
humor ácido, o meu sarcásmo, que
nomeei de "doce veneno".

Porque é ele que me torna transparente e que me leva
a
questionar o verdadeiro sentido das coisas e
consequentemente é essa herança que lego à minha
prole.

Sou cética, ou - sou São Tomé de saias!
Mulher de pouca fé?
Não.
Eu não vejo o Criador, mas vejo a sua obra. Eu não
vejo
vocês, mas vejo vossas almas nas páginas onde
derramam
as suas lágrimas e os seus risos.
Eu não vejo o amor, mas ele mora em mim e às vezes
me
arranha...

Eu só não ia contar aqui pra vocês que a maioria dos
meus
escritos são como partos - me rasgam as entranhas
e nascem
entre lágrimas - ora de dor; ora de emoção,
enquanto outros,
eu rio até quase me urinar.
Quando resolvi escrever isso, era porque não tinha nada
pra
dizer...
Era só pro blog não ficar sem post esta semana, mas ai
uma
palavra puxa outra e esta puxa uma emoção não
sei de onde
e se deixar eu falo aqui a noite inteira entre
risos e
lágrimas.
E a culpa é de vocês...

domingo, 20 de abril de 2008

Devaneios

Quero abraçar teu sorriso
sentir teu olhar
Viver a ternura das manhãs de sol
acordando em teu peito
toda sem jeito;
como só eu sou ao despertar

Quero caminhar pela praia
pisando a areia
onde escrevo "te amo"
para que o mar leve a ti
o meu beijo salgado

Me espreguiçar nas tardes mansas
numa rede
uma água de côco, matando a sede
enquanto o vento me acaricia os cabelos
como se fossem tuas mãos

Quero pegar a Rio-Santos na madrugada
a 120 por hora
Há uma praia que quero te levar
pra namorar

Depois
quero voltar pra casa cansada;
e ainda assim dançar uma valsa
me aninhar no teu abraço
e num doce cansaço
adormecer...

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Morrer para viver

Não sei de onde ele veio, mas chegou manso
e faceiro como uma tarde de outono
em que o céu se pinta de um leve dourado
e as gaivotas sobrevoam as ondas rasteiras.
Tocou minha alma, como um vento leve
que esvoaça as cortinas deixando a brisa

pousar um aroma de maresia no ar.
Segredou-me em meus ouvidos:
- Morres comigo!
Perguntei-lhes:
- Por que não viver?
- Porque morrer contigo é viver mil vezes
Então, morrerei!

Sempre...
Bebi do seu doce veneno e mergulhei nos seus

olhos como quem mergulha no mar
E meu coração que já estava adormecido
abriu-se num alento e convidei-o a entrar.
Mostrou-me seu mundo em canções,
fados, boleros, tangos e valsas
e o chamei a dançar

Não sei do amanhã; não faço planos
mas hoje quero embriagar-me em seu
perfume e deixar que me conduza pelo
salão enquanto a orquestra tocar.
E mil vezes morrerei...

terça-feira, 1 de abril de 2008

Meninos na praça

Os meninos dormem
nas calçadas nuas, nas ruas
no centro do Rio, no frio
Meninos de todas as idades
acordam a cidade
E no afã;
o café da manhã
garrafinhas de cola
que de mão em mão rola
cheirando
axpirando
enganando a fome
que os consome
Rostos sujos, sem banho
São de todos os tamanhos
meninos
anjos caídos
entorpecidos
cheirando solventes
que lhes travam as mentes
anestesia,
na crueza dos dias
vagando sem mais
pedindo em sinais
- Moço, me dá um trocado
pra comprar um pão
- Que trocado, meu irmão?
Vai trabalhar, vagabundo!
E lá vai o filho do mundo
A fome gritando alto
Passa a grana, é um assalto!
Ai maluco, perdeu
É tu ou eu
Passa a carteira
Que eu não tou pra brincadeira
E, nessa luta injusta
Quanto a vida custa?
Talvez escola, comida...
Educação, porque não?
Um amigo,
Um irmão
E um motivo pra sonhar...
que um dia vai melhorar